Conheça os estilos alternativos mais atraentes ao perfil do consumidor de vinho no Brasil segundo novo estudo da Wine Intelligence

No terceiro artigo da série da Winext sobre os vinhos SOLA (Sustentáveis, Orgânicos e de Baixo Teor Alcoólico), vamos explorar 3 das principais descobertas sobre o mercado brasileiro do “Global Wine SOLA Report: Sustainable, organic & lower alcohol wine opportunities”. Na pesquisa, a Wine Intelligence traz um índice de oportunidades que ranqueia o potencial do estilos alternativos de vinho nos principais países consumidores.

Em comparação com os mercados mais desenvolvidos, a oferta de vinhos alternativos ao consumidor brasileiro é ainda muito baixa, o que impede por enquanto a inclusão do nosso país no índice de oportunidades. Mas não se desanime! O relatório SOLA traz um estudo de caso que permitiu elencar quais estilos da onda natureba têm maior potencial de sucesso entre os brasileiros. E como de costume, o nosso mercado não deixou de surpreender!

Se você não leu os artigos anteriores da série, não deixe de acessar para conhecer cada um dos 12 estilos alternativos e os destaques da pesquisa sobre o potencial deles no mercado global do vinho.

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Vinho orgânico no topo do mundo, mas não no Brasil

A tendência para os alimentos orgânicos no Brasil é de franca expansão: já são 15 mil propriedades certificadas e em processo de transição, enquanto a produção orgânica nacional cresce acima de 20% ao ano. O cenário é tão promissor, que o crescimento mal dá conta da demanda doméstica, já que 70% da nossa produção orgânica é exportada para a Europa.

Enquanto o brasileiro vai à feira atrás de alimentos orgânicos, o mesmo não acontece no mercado de vinhos. Segundo o relatório SOLA, o vinho orgânico não está entre os 3 primeiros colocados no ranking oportunidades dos estilos alternativos para o Brasil. Posicionados entre as últimas posições da lista, os vinhos biodinâmicos e naturais passam ainda mais longe do radar do consumidor brasileiro.

Enquanto o baixo potencial dos biodinâmicos e naturais está de acordo com o observado no ranking global do relatório, o que explica o menor potencial do vinho orgânico no Brasil em comparação com os grandes mercados? Pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicaram em 2017 um estudo que aponta quatro fatores importantes.

1. Ainda uma novidade

O vinho orgânico é um fenômeno relativamente recente no país. As primeiras conversões de vinhedos brasileiros para o modelo orgânico começaram nos anos 1990, enquanto o lançamento do primeiro vinho orgânico nacional é atribuído à vinícola Velho do Museu (RS): um Cabernet Sauvignon Juan Carrau de 1997. Em contraste, os consumidores europeus e americanos acompanham o surgimento de rótulos orgânicos pelo menos desde a década de 1970. Em 1991, o New York Times já anunciava a tendência do vinho orgânico como “mainstream”, ou seja, algo convencional.

2. Desafios tropicais

Clima e solo são os principais obstáculos para a produção de vinhos orgânicos no Brasil. Na principal região vinícola do país, a Serra Gaúcha (RS), vinhas da espécie vitis vinifera – responsáveis pelos vinhos finos sofrem com o altíssimo volume de chuvas e a difícil drenagem dos solos, o que exige intervenção química extra para evitar doenças e apodrecimento. Com a falta de tecnologia e de técnicas para melhorar a resistência destas uvas, resta ao produtor orgânico nacional investir em mão de obra intensiva e gestão das vinhas, além de assumir um percentual de risco. Por isso, o vinho orgânico brasileiro é frequentemente produzido com uvas de mesa, melhor adaptadas ao terroir nacional, enquanto os vinhos finos do estilo são oferecidos por um preço relativamente alto e atraem apenas consumidores das faixas mais altas de renda.

Situada na fronteira com o Uruguai, a Campanha Gaúcha (RS) tem se mostrado mais promissora para o vinho orgânico, com clima mais seco, dias mais longos e solos de melhor drenagem (Crédito: Vinhetica).

Situada na fronteira com o Uruguai, a Campanha Gaúcha (RS) tem se mostrado mais promissora para o vinho orgânico, com clima mais seco, dias mais longos e solos de melhor drenagem (Crédito: Vinhetica).

3. Certificação e legislação

O alto custo para se obter  uma certificação orgânica, somado às complicações da legislação brasileira, encarecem ainda mais os rótulos orgânicos, e dificultam que pequenos produtores possam vende-los fora das suas próprias vinícolas, em lojas e supermercados.

4. Comunicação falha

Ainda, o consumidor encontra dificuldade para identificar os vinhos orgânicos e distingui-los dos convencionais. Frequentemente, os rótulos não apresentam informações claras, e os supermercados podem acabar posicionando-os junto aos vinhos de mesa, ou ainda na seção de alimentos orgânicos.

Os estilos naturais e biodinâmicos enfrentam desafios similares, e mesmo os importados, acabam chegando ao Brasil com desvantagens competitivas: o preço é relativamente alto, devido aos custos de produção, certificação e importação, enquanto os rótulos nem sempre são claros para os consumidores.

Mas isso não significa que os naturebas não tenham futuro no país. Vale lembrar que o relatório SOLA estabeleceu o ranking de oportunidades de acordo com os quesitos de conhecimento, intenção de compra e afinidade. Como o conhecimento sobre o vinho orgânico, biodinâmico e natural é ainda muito restrito, seria impossível o restante dos critérios se mostrarem promissores no cenário atual.

Portanto, além de enfrentar desafios técnicos e burocráticos, os entusiastas destes estilos precisam investir em comunicação e divulgação. Exemplo de sucesso desta estratégia é a iniciativa da Enoteca Saint Vin Saint, que organiza em São Paulo a única feira do país especializada em vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais – a  “Naturebas”. O encontro, que começou há 6 anos com um público de 100 pessoas, chegou a 2018 com 92 expositores e cerca de 900 visitantes.

A sexta edição da feira Naturebas, realizada em agosto de 2018, contou com 46 produtores, sendo 27 internacionais e 19 brasileiros, e mais 26 importadoras (Crédito: Enoteca Saint Vin Saint).

A sexta edição da feira Naturebas, realizada em agosto de 2018, contou com 46 produtores, sendo 27 internacionais e 19 brasileiros, e mais 26 importadoras (Crédito: Enoteca Saint Vin Saint).

Brasileiro adere à onda sustentável

Assim como em outros países estudados pela Wine Intelligence, o vinho de produção sustentável surge como uma grande oportunidade no mercado brasileiro. O estilo está no topo do ranking SOLA para os nossos consumidores, seguido pelo vinho livre de conservantes.

Como explica a CEO da Wine Intelligence, Lulie Halstead, a tendência global é que o consumidor de vinho não exija rótulos com certificação consistente – como selos orgânicos ou biodinâmicos oficiais –, e esteja cada vez mais interessado em produtos com designações menos específicas, como simplesmente “sustentável”. 

Os resultados do relatório SOLA sobre o Brasil vão de encontro com o que indicava o estudo da UFRGS, mencionado acima: o interesse do consumidor brasileiro não está em certificações orgânicas, biodinâmicas ou naturais, mas sim em vinhos produzidos de maneira sustentável, com o mínimo de impacto ambiental; saúde e qualidade de vida também são preocupações do brasileiro, o que explica o interesse por produtos livres de aditivos químicos.

Vinhos de verão

Na terceira posição do ranking SOLA para o Brasil, o vinho de baixo teor alcoólico também se apresenta como um dos mais promissores do nosso mercado. O resultado pode parecer surpreendente se comparado com o ranking global do relatório, onde o estilo é cotado como o menos atraente para os consumidores, ocupando a última posição!

No entanto, para quem conhece o jeito brasileiro de tomar cerveja, um estilo de vinho leve, ideal para ser consumido gelado, parece promissor. Tanto é, que já tem empreendedor apostando na ideia. A vinícola Giaretta, na Serra Gaúcha, lançou este ano os primeiros vinhos enlatados de produção nacional: uma linha de  espumantes branco e rosé com teor alcóolico entre 7,5 e 10,5%. Batizado de “Ovnih” (sigla para Objeto Vinífero Não Identificado), o produto também é oferecido em barril aos bares e restaurantes, para ser servido na pressão ao estilo do tradicional chopinho. Será que a moda pega?

O “Ovnih Sparkling Wine” é uma aposta dupla em tendências que ainda estão em teste no mercado global: um vinho enlatado e de baixo teor alcóolico (Crédito: OvniH Sparkling Wine).

O “Ovnih Sparkling Wine” é uma aposta dupla em tendências que ainda estão em teste no mercado global: um vinho enlatado e de baixo teor alcóolico (Crédito: OvniH Sparkling Wine).

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Para baixar uma amostra e saber mais sobre o “Global Wine SOLA Report: Sustainable, organic & lower alcohol wine opportunities”, acesse a página da Wine Intelligence.

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Fontes:
- Relatório Global Wine SOLA Report: Sustainable, organic & lower alcohol wine opportunities;
-
Revista WineIQ, Q2 2018, issue 8, da Wine Intelligence;
- Livro
Atlas Mundial do Vinho (7a edição), de Hugh Johnson e Jancis Robinson;
-
Artigo The perspective of organic wine in Brazil – trends, demands and production da UFRGS;
- Artigo Análise dos vinhos orgânicos brasileiros: posicionamento e perspectivas atuais e futuras de Paulo Hayashi Junior, da Unicamp;
- Artigo Creating the Market for Organic Wine da Universidade de Harvard;
- Notícias Organic Wines Enter the Mainstream dos arquivos do New York Times;
- Artigo O mercado para os produtos orgânicos está aquecido do Sebrae;
- Artigo Os vinhos naturais em destaque de Suzana Berelli, na IstoéDinheiro;
- Notícia Vinícola Giaretta e AVR apostam no vinho em lata do Jornal do Comércio.

Foto capa: Free-Photos on Pixabay