No mais imprevisível dos anos, saiba como estão os prognósticos da Wine Intelligence para o mercado global de vinhos e os seus reflexos no Brasil

Podemos dizer que o mundo era outro há seis meses, quando a Wine Intelligence traçou as suas previsões para o mercado de vinhos em 2020 (leia no artigo anterior). Muito mudou desde então. Mas nem tudo. Das novas embalagens até o comportamento do consumidor, passando pelo ressurgimento de estilos e regiões, trazemos aqui uma avaliação de como as previsões vêm se comportando até o momento e os seus reflexos no mercado brasileiro. 

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O consumo de vinho no lar destacou-se como alternativa de lazer para os consumidores na quarentena, o que gerou também um crescimento expressivo das vendas online para o setor (Crédito: oneipunch).

O consumo de vinho no lar destacou-se como alternativa de lazer para os consumidores na quarentena, o que gerou também um crescimento expressivo das vendas online para o setor (Crédito: oneipunch).

1. O consumo de vinho no mundo irá diminuir – cumpriu-se parcialmente 

Logo antes da pandemia, a Wine Intelligence estimava que o consumo global de vinho continuaria sua trajetória de queda em 2020. Considerando os dados mais recentes, esta tendência parece persistir, embora por razões que claramente vão além do esperado: mais especificamente, a quarentena global que fechou as portas de bares, restaurantes e outros estabelecimentos de consumo nos principais mercados.

Apesar da queda, o mais interessante é observar que o consumo de vinho no mundo provavelmente não diminuirá tanto quanto as refeições fora de casa e o consumo de produtos de luxo. Em alguns mercados, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, as pessoas estão economizando em passeios, férias e outras atividades de lazer, enquanto se permitem gastar mais em um bom vinho para beber em casa.

Canais online assistiram ao surpreendente aumento no fluxo de novos clientes, que chegou a 30% entre os principais e-commerces brasileros.

Como havíamos comentado, o Brasil seguia na contramão da tendência de queda de consumo já antes da pandemia, com o aumento no número de consumidores regulares de vinho e a busca por bebidas alcoólicas de maior qualidade. Com as medidas de isolamento social, o crescimento do consumo de vinhos em casa foi destaque na mídia. De acordo com a Ideal Consulting, os vinhos importados cresceram 8% em volume entre janeiro e junho deste ano. Além disso, os canais online assistiram ao surpreendente aumento no fluxo de novos clientes, que chegou a 30% entre os principais e-commerces brasileiros.

Apesar dos números positivos nos canais online e nos supermercados, permanecemos cautelosos quanto à performance do mercado de vinhos para os próximos 12 meses, que dependerá do ritmo de reabertura de bares, restaurantes e eventos sociais, bem como da retomada da economia. 

Em 2020, os franceses foram os primeiros a regulamentar os "vinhos naturais”, que não seguem no resto do mundo critérios comuns de cultivo, vinificação e rotulagem (Crédito: Morning Claret).

Em 2020, os franceses foram os primeiros a regulamentar os "vinhos naturais”, que não seguem no resto do mundo critérios comuns de cultivo, vinificação e rotulagem (Crédito: Morning Claret).

2. O consumidor estará mais exigente em relação à sustentabilidade e outros aspectos de responsabilidade de quem produz seu vinho – não se cumpriu

Em dezembro de 2019, a Wine Intelligence avaliou que apenas uma minoria dos consumidores dava atenção às certificações de sustentabilidade por parte da indústria. Com a pandemia, o tema da sustentabilidade parece ter perdido espaço enquanto o debate público e a atenção das pessoas se voltou completamente para preocupações de saúde e bem-estar.

Mesmo assim, é possível notar um crescente escrutínio regulatório sobre qualificações de sustentabilidade, por exemplo, com a França regulamentando uma definição para “vinhos naturais” em abril de 2020. Quanto ao debate mais amplo sobre a sustentabilidade no mundo do vinho, o mais provável é que seja retomado com maior ênfase quando a pandemia for superada.

Do ponto de vista dos consumidores, os atributos de sustentabilidade ainda são pouco compreendidos e permanecem um universo a ser explorado.

No Brasil, é possível notar uma crescente atenção ao tema sustentável, principalmente por parte dos produtores e do trade de vinhos. Isso é percebido pelo aumento da oferta de vinhos orgânicos, naturais e afins nas prateleiras e lojas virtuais de todo o país. Por outro lado, do ponto de vista dos consumidores, os atributos de sustentabilidade ainda são pouco compreendidos e permanecem um universo a ser explorado.

Seguindo o estilo da Provence, rosés de outras regiões vinícolas vêm conquistando a preferência dos consumidores nos principais mercados, inclusive no Brasil (Crédito: Elle Hughes).

Seguindo o estilo da Provence, rosés de outras regiões vinícolas vêm conquistando a preferência dos consumidores nos principais mercados, inclusive no Brasil (Crédito: Elle Hughes).

3. Países produtores de menor destaque viverão renascimento: Alemanha, África do Sul, Portugal e Grécia – cumpriu-se

Como escrevemos em janeiro, a Wine Intelligence esperava que em 2020 alguns estilos tradicionais do vinho ganhariam ares de novidade junto à nova geração de consumidores. Dentre eles, estariam os Rieslings alemães; os brancos e cortes tintos sul-africanos e portugueses; e vinhos leves, como os gregos. Oportunidades também pareciam surgir para os rosés premium de estilo fresco além da Provence

Segundo a consultoria britânica, estas tendências são resultado da crescente demanda por vinhos brancos mais aromáticos e de baixo teor alcoólico e por tintos interessantes e menos tânicos. Até agora, a exceção à expectativa foi a África do Sul, onde a produção das vinícolas chegou a ser suspensa pelo governo por conta da pandemia.

Em solo brasileiro, o vinho rosé definitivamente deslanchou: sua participação de mercado subiu de 4 para 7% entre 2016 e 2020.

Em solo brasileiro, o vinho rosé definitivamente deslanchou: sua participação de mercado subiu de 4 para 7% entre 2016 e 2020. Outro avanço merecedor de destaque foi a categoria de vinhos finos brasileiros, que cresceu 50% em volume nos primeiros 6 meses do ano em relação ao mesmo período de 2019, segundo dados da Ideal Consulting e da Uvibra.

Em 2020, diversas empresas lançaram vinhos em lata no mercado brasileiro, inclusive no modelo de “startup do vinho” seguido pela Lovin (Crédito: Lovin).

Em 2020, diversas empresas lançaram vinhos em lata no mercado brasileiro, inclusive no modelo de “startup do vinho” seguido pela Lovin (Crédito: Lovin).

4. Mais negócios investirão em novos embalagens diferentes e visualmente atrativas – cumpriu-se

A previsão original indicava que a transformação mais interessante para o mercado de vinhos em 2020 estaria na área dos formatos de embalagem e serviço, como latas, Bag-in-Box e doses únicas. Esta avaliação mostrou-se acertada, porém não pelos motivos esperados.

Inicialmente, a Wine Intelligence estimava que os consumidores estariam dispostos a optar por embalagens mais sustentáveis. No entanto, diante da quarentena, a demanda que realmente cresceu foi pelos formatos que oferecem um maior volume por valores mais acessíveis. Além disso, com a abertura de parques e espaços públicos de lazer, os americanos e europeus também passaram a aproveitar a praticidade dos vinhos em lata.

O consumidor tem menos tempo e disposição para explorar opções de rótulos nas prateleiras e, por isso, dão preferência às marcas mais reconhecidas.

Em 2019, a consultoria britânica também apontava que os gestores de marketing mais atentos dobrariam as apostas nas áreas de rótulos e design de produto, buscando estilos que equilibrem características de distinção e confiabilidade da marca. Esta tendência vem se concretizando, mas de novo por razões diferentes das imaginadas. Com visitas apressadas às lojas físicas, o consumidor tem menos tempo e disposição para explorar opções de rótulos nas prateleiras e, por isso, dão preferência às marcas mais reconhecidas.

No Brasil não foi diferente: houve uma profusão de lançamentos de novas embalagens de vinhos em lata (leia mais), enquanto produtores premium, como a Cave Geisse, lançaram vinhos de qualidade no formato bag-in-box. Com as mudanças nos hábitos de consumo e os esforços para atrair novos consumidores, esta é uma tendência que veio para ficar. No entanto, no quesito atratividade visual ainda temos bastante a avançar. 

Atenta às oportunidades do mercado brasileiro, a ViniPortugal investiu em 2020 meio milhão de Euros para promover os seus vinhos junto aos supermercados brasileiros (Crédito: ViniPortugal)

Atenta às oportunidades do mercado brasileiro, a ViniPortugal investiu em 2020 meio milhão de Euros para promover os seus vinhos junto aos supermercados brasileiros (Crédito: ViniPortugal)

5. Mercados consumidores emergentes serão vistos como grandes oportunidades de negócios para o vinho – cumpriu-se parcialmente

Como indicado no início do ano, a expectativa era que em 2020 os mercados emergentes assumissem uma posição ainda mais importante dentre as oportunidades de negócio para o vinho no mundo. E, de fato, os holofotes seguem voltados para esses mercados em amadurecimento, que representam a maior esperança de crescimento para a categoria.

No entanto, o inesperado cenário econômico em 2020 trouxe novos players para a lista de mercados mais promissores. O principal case citado inicialmente, China, continua se aprimorando como um dos 5 países mais atrativos para o vinho. No Leste Europeu, destacaram-se a Polônia e a República Tcheca; na Ásia, o crescimento das oportunidades foi mais expressivo na Coréia do Sul, nas Filipinas e na Tailândia; enquanto na África, a categoria vem ganhando espaço significativo em Angola e na Nigéria. Mas a grande surpresa do ano foi a performance do mercado russo, que escalou 23 posições no Ranking de Oportunidades da Wine Intelligence desde 2019 (leia mais).

O Brasil segue a sua trajetória de crescimento no Ranking da Wine Intelligence, alcançando este ano a 26º posição.

Apesar de uma leve queda de pontuação, o Brasil segue a sua trajetória de ascensão no Ranking, alcançando em 2020 a 26º posição entre os países mais atrativos para negócios do vinho de acordo a Wine Intelligence. Como exemplo desta atratividade, a ViniPortugal investirá 500 mil Euros para a promoção dos seus vinhos no país, em uma parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Por outro lado, devemos dizer também que o investidor estrangeiro está bastante cauteloso com a situação econômica do Brasil, que deve ficar mais clara com a superação da pandemia.


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Texto adaptado do artigo Global Wine Trend Predictions for 2020 da Wine Intelligence.

Leia também o relatório aberto Global Trends in Wine 2020, atualizado pela Wine Intelligence após o início da pandemia.

Saiba mais sobre os mercados mais atrativos do vinho no relatório Global Compass 2020, da Wine Intelligence.


Foto de capa: Miki Fath on Unsplash